🌲️ 2022-05 - 📝️ Discussões - Princípios da Divulgação Cientifica

Trabalho final da disciplina de Princípios da Divulgação Cientifica
Maio de 2022

Discussões

Os debates sobre estratégias para uma Divulgação Cientifica mais engajada e comprometida socialmente foram essenciais, agora vários conceitos que ainda desconhecia podem agora ser nominados na minha proposta de pesquisa, que se baseia na análise de discurso de divulgadores científicos, esses conceitos, modelos e paradigmas trouxeram então uma introdução às ferramentas necessárias para essa análise.

Aprender os diferentes paradigmas apontados por Bauer, Allum & Miller (2007) me ajudou também a entender as comunicações que conheço sobre o campo da conservação-restauração, com essas bases é possível identificar potencialidades e dificuldades nos projetos de divulgação cientifica e tentar contorná-los em projetos futuros.
A necessidade democrática da divulgação cientifica e a não instrumentalização da ciencia, discutidas principalmente a partir da escrita de Castelfranchi (2010), também foram ideias importantes para uma reflexão sobre o campo de onde venho - sinto que as poucas interações da conservação-restauração com a sociedade são feitas em momentos específicos onde existe uma demanda provinda do campo em busca de aval para um trabalho, em sua maioria através de uma comunicação hierarquizada, o que evidencia uma certa questão de organização institucional como abordada por Wynne (2005).

Da mesma forma, o engajamento das pessoas (quando esse é possibilitado pelo campo) tem seu quê de utilitarista, principalmente por não ser presente no cotidiano dos envolvidos com o patrimônio (alguns inclusive especialistas leigos ), o que aparenta causar uma falta de motivação para se apropriar do conhecimento afinal “as pessoas não usam, assimilam ou vivenciam a ciência separadamente de outros elementos de conhecimentos, julgamentos ou recomendações” (WYNNE, 2005).

Desenvolver olhar crítico com relação à ciência e sua divulgação era algo que eu já trazia, porém focado à minha área, e vejo agora a quantidade de fatores que entremeiam essa discussão. Na proposta de pesquisa vejo vários fatores se entrecruzando também: cultura, patrimônio, ciência, propriedade, Estado... E me deparo com cada vez mais complicadores num diálogo sobre o assunto.

Os debates sobre diversidade de meios e ferramentas para obter mais dialogia através das propostas de DC também foi algo que percebi aplicável ao pré projeto, que pretende olhar as mídias sociais. Confesso estar um pouco fascinada pela quantidade de estratégias e me sinto inspirada a ser criativa também em projetos futuros, tentando integrar educação patrimonial e cultural a videogames e outras formas de interação.

Também foi bom entender como funciona mesmo que em partes e em constante mudança o engajamento público com a ciência, os dados sobre o assunto merecem mais atenção da minha parte, tal como um mergulho no universo das pesquisas sobre engajamento cultural, inspirado pelo tema anterior, a ser feito posteriormente.
Me parece um dos possíveis caminhos também a disponibilização de dados, estudos, e do fazer da ciência da conservação a quem interessar possa (como defende também Wynne [2005]), pois estes se encontram em sua maioria represados em instituições de ensino ou de guarda, sendo possível lhes conferir um acesso mais democrático. A falta dessa disponibilização de informações me parece dificultar uma tentativa de compreensão do engajamento das pessoas com o campo em si, evidenciado também pela falta de estudos de engajamento.
A última aula, que contou com uma apresentação pela doutora Gabriela Reznik e abordou a teoria do ponto de vista (standpoint theory), também me trouxe questionamentos interessantes sobre como meu ponto de vista pode contribuir, em quais espaços estou inserida para a produção do meu discurso e uma renovada força para a produção acadêmica.

Como efeitos diretos pretendo fazer uma divulgação cientifica ética, multidisciplinar, não só do meu campo, mas do necessário para contribuir com o combate à desinformação. O caminho para isso me parece estar sustentado no terceiro paradigma da DC, Ciência e Sociedade, apesar de se materializar em uma mistura dos modelos de compreensão pública da ciência (de déficit, contextual, conhecimento leigo e engajamento público) nas estratégias, pois todas as ferramentas são bem-vindas e vimos a coexistência de vários desses modelos em prática em Lewenstein & Brossard (2021). O importante me parece ser tratar as pessoas na sua individualidade e interesses, tentar cativá-las e criar uma construção conjunta, evitando métodos apenas transmissivos que dificultam uma dialogia construtiva.

No mais fico com as perguntas que apareceram a partir de debates em aula e vejo como potenciais norteadores de futuras propostas: Quem a gente está alcançando? Quem a gente não está? Estamos sendo mesmo mais democráticos?

Bibliografia

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Este é o jardim digital de Marta Safaneta, ou EiBarracuda, pessoa não-binária e autista, bacharel em Conservação-Restauração e estudando Divulgação Cientifica. Trabalhando atualmente no Projeto "Tem ciência no museu?", da Rede de Museus UFMG | FAPEMIG.
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